Desde o anúncio da inusitada parceria entre as empresas Microsoft, (gigante corporativa responsável pelo Windows, Office, Xbox e diversos outros produtos) e a Canonical, que é responsável pela distribuição de Linux Ubuntu, entre outros produtos baseados no mesmo, o mundo open source encontra-se em burburinho.
Historicamente, a Microsoft sempre foi vista como uma vilã por muitos usuários Linux. Acredito que estes cidadãos imaginavam que Bill Gates (que já se afastou da companhia a tempos) passava o dia de terno preto, sentado em uma escritório panorâmico traçando planos para acabar com o Linux e todo o software livre.
Já a Canonical também não é das mais bem vistas pelos usuários mais radicais (carinhosamente conhecidos como Xiitas), devido a suas políticas de parceria com a Amazon, fornecendo dados de pesquisa dos usuários de Ubuntu e utilizando estes metadados para oferecer publicidade como parte dos resultados de pesquisas.
O fato que é que o esforço colaborativo de ambas irá trazer para o Windows 10 o Windows Subsystem for Linux, ou WSL.
Basicamente o WSL vai incorporar o shell do Linux ao Windows, possibilitando alguns comandos como sed, vi, find e gcc sejam executados nativamente no sistema operacional da Microsoft.
Continue lendo este artigo para entender melhor alguns pontos:
- Porque a Microsoft não depende mais do Windows.
- Qual é o nicho de mercado que o WSL pretende atingir.
- O que ambas as empresas tem a ganhar com isso?
- Quem mais vai se beneficiar desta integração ?
Alguns fatos sobre o mercado de sistemas operacionais.
- A Soma dos sistemas Windows 7, 8, 10, Vista e XP detém aproximadamente 85% do total de desktops e notebooks.
- O sistema OSX da Apple tem uma fatia de cerca de 5% do total de mercado.
- Google e Facebook tem suas estruturas sustentadas por servidores Linux.
- 83% das empresas executam Linux em seus servidores.
Vamos entender um pouco o que levou a parceria.
O Windows não é mais o carro chefe do faturamento da Microsoft.
Antes de mais nada, devemos entender o papel do Windows no fluxo de caixa atual da Microsoft.
No passado, licenças de Windows eram sinônimo de lucro e a sustentação da base financeira da empresa, assim com o pacote Office. Porém, nos últimos anos, a escala se mostra bastante diferente. O crescimento da nuvem, com serviços como Azure e Office 365 tornaram-se o carro chefe do faturamento, seguidos pelos Xbox.
Em seguida, vem o pacote Office e só então o Windows, responsável por cerca de 10% do fluxo de caixa.
Claramente as diversas parcerias, como com instituições de ensino e fabricantes de hardware sacrificaram uma parcela dos lucros para manter a dominância do mercado.
Mas se a maioria dos computadores e notebooks ainda roda Windows, para que a Microsoft precisa atrair novos usuários?
O objetivo é atrair os desenvolvedores.
Há longínquos 15 anos no passado, uma estação de trabalho Windows era o básico para a maioria dos desenvolvedores. As tecnologias disponíveis na época, como Delphi e Visual Basic, assim como os a predominância de aplicativos para desktop, amarravam o desenvolvedor ao Windows.
O crescimento da Internet, e de seus sistemas hospedados na nuvem, fizeram emergir novas tecnologias, diferentes das anteriores e não mais dependentes do Windows. Ninguém depende de determinado sistema operacional para programar em Ruby, Java ou php.
Como se não bastasse, o boom do Docker nos últimos dois anos mostrou como os containers tem a possibilidade de tornar obsoletos os sistemas de virtualização.
Um sistema operacional é tão bom quanto seus aplicativos.
O primeiro computador de sucesso da Apple, o saudoso Apple II tem boa parte do seu sucesso creditado a um aplicativo de planilhas chamado VisiCalc, que era uma espécie de Excel da época.
O VisiCalc foi o primeiro exemplo de Killer App da história. Um Killer App é um software capaz de impulsionar as vendas de determinado equipamento. Este exemplo é muito utilizado pela industria dos games, lançando um jogo popular de maneira exclusiva para vender determinado console.
O que esta história nos ensina? Quem um aplicativo pode determinar o sucesso de uma plataforma inteira.
Quem faz estes aplicativos? Os desenvolvedores, claro.
Como muitos destes desenvolvedores foram ao longo dos anos migrando para sistemas OSX ou Linux, a Microsoft ligou um sinal de alerta. Identificou que precisava de uma forma para os desenvolvedores se sentirem novamente confortáveis no Windows.
Conclusão
Recapitulando alguns pontos citados:
- O Windows é responsável por apenas 10% do faturamento da Microsoft.
- Nos últimos anos, diversos desenvolvedores migraram para sistemas OSX e Linux devido as ferramentas rodarem melhor (ou exclusivamente) nestes sistemas.
- O objetivo no WSL é atrair esses desenvolvedores de volta para o Windows.
- Um sistema operacional depende dos aplicativos para manter seu ecossistema.
Se esta parceria entre a Canonical e a Microsoft será benéfica, só o tempo pode nos dizer. Recomendo a excelente entrevista do Diolinux com a Canonical, onde foram respondidas algumas dúvidas sobre o caso: Entrevista Aqui
Eu particularmente, vou gostar de, nas raras vezes que uso Windows, pode abrir um terminal para navegar pelas pastas e editar meus arquivos no grande Vi.
Fontes:
http://idgnow.com.br/ti-pessoal/2016/03/08/artigo-por-que-a-microsoft-nao-precisa-mais-do-windows/